Vibrador, código morse e engine: polêmica reascende após campeão mundial de xadrez desistir de partida


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Nos últimos dias, um debate polêmico reascendeu entre os praticantes de um dos esportes milenares do mundo, o Xadrez. Pela segunda vez, Magnus Carlsen, norueguês, de 31 anos, campeão mundial desde 2013, abandonou uma partida na sexta rodada da Julius Baer Generations Cup, da etapa de Meltwater na Turnê dos Campeões, após ser derrotado pelo jovem Hans Niemann, americano, de 19 anos. Isso provocou novas insinuações de que seu adversário estaria utilizando mecanismos para trapacear durante a disputa.

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A polêmica iniciou no último dia 4, quando Carlsen derrotou Niemann, nono prestigiado torneio Sinquefield Cup 2022, na cidade de Saint-Louis (EUA), e provocou não só o abandono do campeão no torneio, como levantou fortes insinuações de que o novato trapaceou para obter sua vitória.

Desta vez, a desistência o campeão mundial teve grande repercussão em função do tamanho do evento e de seus personagens. A premiação era de algo em torno de US$ 500 mil (R$ 2,5 milhões) e quem o financia é o bilionário americano Rex Sinquefield, que também mantém uma fundação sem fins lucrativos voltada ao xadrez. Saint-Louis é um dos mais importantes centros do xadrez do mundo, que abriga o Hall da Fama do esporte.

A partida contra Niemann ocorreu na terceira rodada, quando Carlsen liderava o torneio. Com as peças brancas, a sua preparação na abertura não lhe rendeu a vantagem esperada, diz Israel. Ele acrescenta que, decepcionado, Carlsen entrou em uma final ligeiramente inferior na jogada 17, o que não estava nos seus planos. Logo a sua posição foi se deteriorando até cometer um erro grave na jogada 24. Niemann, com jogo impecável, na opinião do brasileiro, aproveitou para chegar à vitória.

Niemann teria mesmo trapaceado ou tudo não passou de um rompante de vaidade de Carlsen? Com a insinuação, o norueguês colocou, ironicamente, em xeque a carreira do jovem colega, que o tinha como ídolo. Segundo boa parte dos especialistas, não há nenhuma prova, tampouco evidência, de que houve fraude. Muitos acreditaram que o calouro poderia ter um vibrador no ânus, recebendo orientações por códigos que lhe orientavam nos movimentos.

Acontece haver registro de competições em que um esportista levou um chip, com comunicação exterior que enviava jogadas por código morse. Elas eram extraídas do que se chama de engine, sistema inserido em softwares que antecipa e analisa movimentações a partir de cada jogada. No caso de um torneio da expressão do de Saint-Louis, isso é praticamente impossível de acontecer.

Esses processadores e módulos de análise já existiam há algumas décadas, nos tempos de Anatoly Karpov e Gary Kasparov. Mas cada vez mais têm se aperfeiçoado, a ponto de o engine ter inúmeros modelos, desde os mais simples aos mais complexos, como o Stockfish.

Fraudes e ascensão

O próprio Niemann admitiu que, tempos atrás, em jogos de xadrez online, ele se valia de informações fraudulentas para ganhar suas partidas. Mas negou terminantemente que tenha feito isso no jogo presencial contra Carlsen. “Sabe-se também que Niemann foi banido duas vezes da plataforma chess.com, uma das mais acessadas, e bastante severa com o seu ‘sistema antitrapaça’. O próprio Niemann confessa ter trapaceado na plataforma, porém jamais em partidas presenciais e mais ainda em torneios de elite”, disse o enxadrista brasileiro Davy de Israel, de 65 anos, proprietário da empresa Xeque-Mate.

Niemann se tornou um grande mestre, mas desconhecido da maioria dos enxadristas amadores, tendo uma ascensão meteórica. Passou de um Elo Fide de 2465 (pontuação de mestre internacional) em 2020 para 2609 em 2021 (pontuação de grande mestre) e a incríveis 2688 em 2022.

No jogo em si, Israel afirma que a jogada 10 foi crucial. Nela, Carlsen tentou surpreender com uma variante inédita. Em vez de tomar o peão central com um peão seu, ele tomou com a dama. Niemann, de forma inesperada, respondeu quase que de imediato, como se estivesse preparado para aquilo, dando uma resposta que destruiu a estratégia de Carlsen e o colocou em posição frágil no restante da disputa. Carlsen teve uma precisão de 83,9, considerada baixa para um grande mestre. A precisão de Niemann? 93,4.

“De acordo com Niemann, em suas entrevistas, ele teve uma sorte enorme, pois a abertura e a posição obtidas após a jogada 10 foram analisadas por ele neste mesmo dia. De fato, após o jogo, quando você entra nos módulos virtuais de análise, descobre-se que alguém analisou, de fato, a posição que se deu na partida contra o Carlsen, dando veracidade aos comentários de Niemann.”

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O enxadrista brasileiro acrescenta. “Carlsen deve ter acreditado que iria surpreender o seu jovem oponente, mas o que aconteceu foi exatamente o inverso. Niemann começou a jogar rapidamente com as melhores respostas e deixando claro que estava bem preparado, o que deixou Carlsen desconcertado.”

Israel, apesar do histórico do jovem americano, não vê sinais de trapaça por parte de Niemann. Para ele, a situação em questão é diferente daquelas anteriores relativas aos jogos online. “Estive neste torneio em Saint-Louis em duas ocasiões. A sala em que eles jogam é reservada, não tem público, os jogadores passam por detector de metais, há condições de segurança muito sofisticadas”, ressalta ao Estadão.

Neste tipo de torneio, os participantes estão proibidos de levar o celular. Podem usar relógios de pulso e ir ao banheiro, reservado exclusivamente para eles. Idas em excesso ao banheiro causam desconfiança. A rigidez do controle levou internautas a levantarem suspeitas das mais estapafúrdias.

Uma delas dizia respeito ao suposto uso de um dispositivo anal por Niemann, que jogaria segundo as vibrações em código morse na região do reto, enviadas a partir de um interlocutor.

Resultado

O uso da tecnologia, no entanto, ainda tem seus limites. Ela dificilmente conseguiria driblar a segurança em torno de um grande evento de xadrez. E, conforme afirmou Israel, uma importante análise após a partida entre Carlsen e Niemann foi encabeçada pelo grande mestre espanhol, Miguel llescas, de 56 anos.

Ao consultar, por meio de uma nuvem, as movimentações do engine antes do jogo, há exatamente a jogada 10, citada por Niemann, o que evidencia que ele estudou o movimento anteriormente à partida.

Além de enxadrista e octacampeão espanhol, Illescas é cientista da computação, tendo desenvolvido para a IBM o programa de computador de xadrez Deep Blue, que venceu Gary Kasparov em disputa em 1997. Illescas, em depoimento no seu canal do YouTube, porém, disse que também entende a posição de Carlsen.

“Niemann está pagando pelos pecados cometidos anteriormente, qualquer suspeita gera essas desconfianças, é uma situação extremamente difícil”, disse. Ele acredita, porém, que Carlsen poderia ter tido uma outra atitude e não abandonar o torneio. “Com todas as provas colocadas na mesa, tudo parece se encaixar com a versão de Niemann. Sou um admirador do jogo de Carlsen, mas é verdade que se retirar desta forma (não é adequado)… Quando Kasparov teve uma brecha de segurança em sua equipe, despediu um dos seus analistas e continuou jogando”, observa.

No fim de seu depoimento, o espanhol deu seu veredicto. “Há muitas coisas a resolver, entendemos a posição de Carlsen e de Niemann, seu argumento parece ser crível e, portanto, o veredicto profissional não pode ser outro além de inocente”, disse Illescas. Mas, como toda a desconfiança tem seu peso, a palavra “inocente” saiu sem nenhuma eloquência. Quase inaudível e silenciosa, como um jogo de xadrez.

Com informações de Terra

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