Turismo como alternativa econômica para municípios mineradores
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Um dos grandes desafios para os municípios que dependem economicamente da mineração é o desenvolvimento de outras matrizes econômicas que possam incrementar o seu sustento e, principalmente, prover renda no período pós-mineração.
Tendo em vista que a atividade de mineração gera renda para os municípios a partir da exploração de recursos não renováveis e, portanto, finitos, o desenvolvimento de novas matrizes para estes municípios é pauta recorrente.
Em Parauapebas, sudeste paraense, um dos maiores municípios mineradores do país, muito tem se discutido sobre o potencial do turismo como uma dessas alternativas econômicas, já que o município abriga parte da Floresta Nacional (Flona) de Carajás, com belezas naturais encantadoras.
Em 2012, graças ao apoio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), foi criada a Cooperativa de Ecoturismo de Carajás (Cooperture Carajás – https://www.facebook.com/ecoturismocarajas/). Seus cooperados foram capacitados e qualificados como guias turísticos para condução de visitantes, em diversas trilhas e pontos específicos dentro da Flona Carajás. O registro formal da cooperativa ocorreu em 2015.
“O ICMbio nos apoiou desde o início. Nos ajudou com a construção do Plano de Exploração do Turismo na Flona, nos cedeu uma sala na sede do órgão, em Parauapebas, para trabalharmos, inclusive já estamos lá há mais de cinco anos, desenvolvendo nossas atividades”, informou Gilberto Vieira, associado da Cooperture.
Atualmente a cooperativa conta com 30 cooperados, das mais diversas áreas, e movimenta uma receita ainda tímida de R$ 60 mil por ano, em média, “isso está bem aquém do potencial que a região tem para geração de renda com o ecoturismo. Hoje, nosso principal desafio, é consolidar a nossa cooperativa como operadora turística e tornar a atividade econômica viável para nossos cooperados”, detalhou Gilberto.
Sobre o apoio fornecido pelo ICMbio à cooperativa, Marcel Regis, que é chefe da Flona Carajás, diz que o papel do órgão é justamente o de incentivar ações que promovam a apropriação das áreas de preservação pela comunidade, “a base do ICMbio é fomentar que a comunidade, que a sociedade, se aproprie do espaço protegido, e o utilize de forma sustentável, de forma ordenada”.
“A Floresta Nacional de Carajás é um espaço público, de uso público, e a gente quer que a sociedade a conheça e divulgue suas belezas. A população de Parauapebas começou a demandar esse conhecimento da floresta e o ICMbio abriu para essas visitações, a exemplo do que acontece em Carolina e no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, no Maranhão”, citou Marcel. Os municípios citados são referências no ecoturismo.
Mas esse processo de abertura da floresta para visitação não foi de uma hora para outra, assim como a consolidação do ecoturismo como uma das alternativas econômicas para Parauapebas, se acontecer, não ocorrerá tão rápido.
Nas décadas de 80 e 90, para acessar a Flona Carajás era necessário ser funcionário da então Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) ou ter uma autorização de um dos empregados da empresa, e o acesso era restrito ao Núcleo Urbano de Carajás e ao Parque Zoobotânico, mantido pela mineradora.
“Naquela época a Portaria de Acesso à Flona Carajás funcionava mesmo como uma forma de barrar quem não trabalhava na mineração”, explicou Marcel. Em 2006, o IBAMA e a Prefeitura de Parauapebas conduziram um processo que culminou na abertura de parte da Flona Carajás para a população.
Na época foi criado um departamento de Uso Público da Floresta, dentro da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMA), ativo até os dias atuais, que é responsável pela emissão de autorizações para visitas ao Núcleo Urbano e ao Parque Zoobotânico, em Carajás, para qualquer pessoa.
“Em um segundo momento, o acesso foi ampliado, através da visitação guiada, por meio das atividades de ecoturismo. Com o surgimento da Cooperture, o ICMbio autorizou que os membros da cooperativa começassem a levar, de forma ordenada, guiada, orientada, e com todos os cuidados que a floresta requer, por ser uma área selvagem, visitantes para conhecerem as áreas naturais”, informou Marcel.
Vídeo produzido pela HD Produções, produtora de vídeos em Parauapebas, em parceria com o ICMbio.
Atualmente, estão abertos à visitação o Parque Zoobotânico Vale, a trilha Lagoa da Mata, as trilhas e cavernas da savana de N1, oo mirant da mina de N4 e a cachoeira “Será que Volta”, além de imensas lagoas e cavernas em Serra Sul, na região de Canaã dos Carajás, próximo ao Projeto de Mineração S11D.
Já no Parque Nacional Campos Ferruginosos estão abertas à visitação a Cachoeira de Águas Claras e a Pedra da Harpia, uma grande rocha que é utilizada como mirante natural para observação da floresta amazônica.
De acordo com Gilberto, de 2014 até então a Cooperture já levou 3.500 visitantes às rotas de Carajás. São em média 120 visitas por ano, dentre elas as realizadas por grupos de pesquisadores e de observadores de pássaros, a maioria de fora do país.
Parque Nacional Campos Ferruginosos
O Parque Nacional Campos Ferruginosos está dentro da Flona Carajás e foi criado em 5 de junho de 2017, como uma das compensações ambientais pela implantação do Projeto S11D Eliézer Batista, da Vale. A maior parte da sua extensão está localizada no município de Canaã dos Carajás, sede do S11D, a outra parte, em Parauapebas.
O Parque tem uma área de aproximadamente 79 mil hectares formada por dois platôs ferruginosos: a Serra da Bocaina e a Serra do Tarzan. Na área são encontradas espécies raras da região, além de registros arqueológicos das primeiras ocupações humanas na Amazônia, em algumas das 377 cavernas catalogadas.
Tanto a área do Parque, como toda a Flona Carajás, contam com o apoio fundamental da mineradora Vale, que atua como parceira do ICMbio, na proteção das áreas de conservação ambiental.
“O Parque Nacional Campos Ferruginosos concentra o maior número de cavernas ferríferas do país, ele tem um potencial ecoturístico extremamente alto. A gente vem estruturando o Parque para que se enquadre também nesse projeto macro de ecoturismo. Além da Cooperativa de Parauapebas, surgiu recentemente a cooperativa de Canaã dos Carajás, que já vem conversando com o ICMbio para abrir outras áreas da Flona Carajás para o ecoturismo”, adiantou Marcel.
O acesso ao Parque dos Campos Ferruginosos pode ser por Parauapebas e também por Canaã dos Carajás. “Vamos começar a prospecção no Parque esta semana, mas é bem tranqüilo, o percurso iniciará por Carajás, passará pela mina, e também contemplará a cachoeira de Águas Claras, que pertence aos Campos Ferruginosos”, informou Gilberto.
Fomentos do Poder Público ao turismo
Apesar de tímidas, a Prefeitura de Parauapebas tem investido em ações de capacitação do trade turístico da cidade e também na divulgação do potencial do município para o turismo.
“O município tem se preparado, a infraestrutura da cidade foi trabalhada, assim como toda rede hoteleira, bares, restaurantes e a sinalização”, informou Marcos Alexandre, coordenador do Departamento de Turismo (DETUR), da Prefeitura de Parauapebas, durante a participação na Feira de Turismo da Associação Brasileira de Agências de Viagens (ABAV), realizada entre os dias 26 e 28 de setembro, em São Paulo.
A ABAV EXPO é uma das principais feiras de turismo do Brasil e a segunda maior feira do segmento nas Américas. Durante o evento, a Prefeitura montou um estande e apresentou as rotas turísticas que o município já disponibiliza.
“Temos mais de 98 hotéis, com mais de 1900 leitos disponíveis. A bandeira íbis, por exemplo, está na cidade. Temos cooperativas de condutores, agências de viagens receptivas e uma infraestrutura adequada para atender a cadeia de turismo”, acrescentou Alexandre.
Texto: Karine Gomes / Fotos: Anderson Souza e Irisvelton Silva